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Músicos de Juazeiro pedem reformulação de decreto que proíbe eventos na Bahia

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Artistas da música que atuam na região do Vale do São Francisco realizaram uma manifestação na manhã desta segunda-feira (7) em Juazeiro, no Norte da Bahia, contra o decreto do Governo do Estado, publicado na semana passada, e que voltou a proibir a realização de eventos, públicos ou privados, independentemente do número de participantes, em toda Bahia.

O decreto afetou diretamente os músicos, visto que os estabelecimentos estão proibidos de promover shows de voz e violão, como havia sido permitido. Muitos compromissos que estavam previamente agendados precisaram ser desmarcados urgentemente, após a determinação, o que gerou uma insatisfação coletiva. A categoria foi uma das mais afetadas pela pandemia da covid-19, visto que tiveram que interromper as atividades, definitivamente, desde março, e, no caso de Juazeiro, só foi permitido o retorno em agosto, após o município liberar o retorno do funcionamento presencial dos bares e restaurantes, bem como dos shows musicais.

Cerca de 100 artistas participaram do protesto na manhã de hoje em Juazeiro, que teve concentração na Orla II da cidade. Os manifestantes saíram em passeata pelas ruas do Centro, pararam de frente ao Paço Municipal, sede do governo, onde solicitaram apoio do gestor municipal para tentar um dialogo com o Estado, bem como também em frente à sede da Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes (Seculte), na Praça da Catedral. O protesto foi encerrado na Ponte Presidente Dutra, onde os manifestantes se concentraram na via de pedestres, sem que o trânsito fosse interrompido.

“Foi uma passeata pacífica e histórica. Tenho mais de 30 anos de música aqui e nunca vi uma mobilização nessa altura, em plena segunda-feira de manhã. A gente sentiu na pele. Essa pandemia veio para dizer que a gente precisa acordar e que precisamos de apoio. Fazemos parte do turismo, terceiro setor que mais rende, e temos famílias que são sustentadas através do nosso trabalho. Também fazemos a economia do município crescer. Não somos invisíveis”, disse Marcelo Vidal, um dos organizadores do protesto.

(foto: reprodução/Whatsapp)

Reformulação do decreto

O decreto nº 19.586, publicado no Diário Oficial do Estado da Bahia (DOE) na sexta-feira (4) e que tem validade até 17 de dezembro, com indicativo de renovação, proíbe shows, festas, públicas ou privadas, e afins, independentemente do número de participantes. No sábado (5), o governo editou a medida, e autorizou a realização de casamentos e formaturas, sem que ultrapasse o limite de 200 pessoas.

Vidal considera que a determinação é injusta, visto que afeta, exclusivamente, os músicos, que conforme acrescenta o artista, não são os responsáveis pelas aglomerações nos estabelecimentos. “O decreto proíbe os shows, mas não proíbe os bares abertos. É como se nós músicos fôssemos os responsáveis pelas aglomerações. Mas é um decreto perverso para a gente. O empresário é quem abre o bar e quem aglomera. [Não concordamos em] tirar o músico do palco, que já passou seis meses sem trabalhar. Claro que todos nós sabemos que essas medidas em vigor são necessárias, e que o intuito é proteger, mas a gente reprime o que esse novo decreto estabelece”, disse.

(foto: reprodução/Whatsapp)

Os artistas que participaram da mobilização pedem uma reformulação da medida, para que a classe não seja, mais uma vez, afetada. “O decreto não pode ser benéfico para uns e para outros não. A nossa classe foi a mais prejudicada. Fomos os primeiros a parar e os últimos a voltar. Um decreto que diz que o bar pode ficar aberto e aglomerar, mas que o músico tem que sair do palco? Os bares continuam cheios, somente os palcos ficaram vazios. Não é um decreto que tem um formato correto. Precisa ser reformulado de forma de que nos dê condições de trabalho, claro que cumprindo as determinações sanitárias. Queremos trabalhar, afinal, as contas vêm todo mês”, acrescenta Marcelo Vidal.

O músico Júnior Mota, que também é contra o decreto estadual, questionou a medida ao trazer indagações sobre o funcionamento dos bares e restaurantes, que continuam promovendo aglomerações. “Existe bom senso em um decreto que proíbe apenas os músicos de trabalharem? Ontem dei um giro pela cidade e vi que os bares continuam lotados, mesmo com o som mecânico. As pessoas continuam se aglomerando. São os acordes que transmitem o vírus? Se o governo quer levar esse decreto adiante, tem que achar uma saída para a classe musical. Tem gente que vive de música. Essas pessoas vão fazer o quê?”, questionou Mota.

Segunda onda

A decisão do governo, de suspender a realização de shows e eventos, independente do número de participantes, é baseada numa informação dada pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) que afirma que a Bahia já vive uma segunda onda da pandemia da covid-19. Segundo o secretário Fábio Vilas-Boas, as taxas atuais de crescimento dos casos da doença são iguais às que o Estado registrava em junho, só que com um detalhe importante: existe agora um surto geral, com os índices aumentando em todas as regiões do estado de uma vez só.

Vilas-Boas disse que a previsão é que a segunda onda da covid-19 na Bahia siga nas próximas três semanas, com expectativa de redução das taxas de contaminação no final de dezembro. Além dessa medida, o governo também anunciou a reabertura de 170 novos leitos de UTI, sendo 10 em Juazeiro [veja mais].

Outras medidas, entretanto, para conter as aglomerações, não foram implementadas até o momento. A fiscalização do cumprimento das determinações é realizada pela Polícia Militar, pela Guarda Civil Municipal (GCM) e pela Semaurb. Apesar disso, conforme o PNB já mostrou algumas vezes, diversos estabelecimentos, principalmente que estão afastados da região central, são os principais alvos das denúncias de desrespeito aos protocolos sanitários.

Da Redação por Thiago Santos

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