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“O nosso pescado pede socorro”: aconteceu em Remanso ato em defesa da pesca e do consumo de peixe

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“O nosso pescado é saudável”. Esse foi o mote do ato em defesa da pesca e do consumo de peixe realizado nesta segunda-feira, 04/10/21, dia de São Francisco, em Remanso-BA. A abertura do evento ocorreu no auditório da UAB (Universidade Aberta) e contou com a participação de representantes da APPR (Associação dos Pescadores e Pescadoras de Remanso), Colônia dos Pescadores e Pescadoras Z-41 de Remanso, CPP (Conselho Pastoral dos Pescadores), Sasop (Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais), Secretarias Municipais da Agricultura e da Saúde, pescadores e compradores de peixe, além do prefeito do município, Marcos Palmeira. Em seguida, houve um momento de degustação do pescado no Mercado Municipal.

A ideia do ato foi motivada pelo fato de que vem sendo divulgadas notícias falsas sobre a Doença de Haff, relacionando-a ao pescado. Com isso, a cadeia produtiva de produção do peixe artesanal foi afetada, trazendo muitos prejuízos aos/as pescadores/as, pois houve uma redução no consumo de peixes. Essa doença, popularmente conhecida como doença da urina preta, é pouco conhecida, sendo que seus primeiros registros datam de 1924 quando, na comunidade de Laguna Fresca, na Alemanha, algumas pessoas começaram a apresentar seus sintomas: dores musculares, no peito, no pescoço, panturrilhas e cabeça, rigidez muscular, fraqueza, náusea, contratura muscular, dores ao toque leve e, mais raramente, vômitos e diarreia.  Os óbitos são raros e a maioria dos pacientes se recuperam em poucos dias.

No Brasil, a primeira ocorrência foi no Amazonas em 2008. Há notificações também na Bahia, São Paulo e Pernambuco. Provavelmente, a causa dessa doença seja uma toxina que não é produzida pelo pescado, mas que, vinda do ambiente, se acumula nos músculos e vísceras dos peixes e crustáceos.  Os fatores específicos que causam essa enfermidade precisam ainda de uma investigação mais aprofundada, pois sua causa exata permanece sem confirmação.

Segundo o pescador Ezequias, “o pescado pede socorro”. Ele também destacou o impacto negativo da redução das vendas de peixe, tanto para os pescadores e suas famílias, quanto para a economia local remansense. Todas as falas, no ato de abertura da UAB, frisaram a inexistência de relatos de pessoas que foram contaminadas após a ingestão do pescado produzido na Bacia do São Francisco, em especial no município de Remanso. Edimar Freire, médico veterinário e um dos representantes da Secretária de Agricultura, colocou que o atual temor da população é devido, tão somente, a divulgação das notícias falsas.  Já José Arnaldo, o outro representante da pasta, reforçou o apoio da secretária à agricultura familiar e aos/as pescadores/as de Remanso.

O representante do Sasop, Francisco José, afirmou que uma das doenças que mais vem prejudicando a vida das pessoas são as notícias falsas. Em sua intervenção, destacou a importância da pesca artesanal, “alimento de qualidade e saudável”, que chega, inclusive, a merenda escolar. Só no ano de 2021, foi firmado com a Secretária da Educação um contrato de mais de R$350.000,000, destinado a merenda. Aliás, o prefeito Marcos Palmeira relatou que a secretária de educação, Neila Régis, disse que já existem famílias, recusando a oferta da merenda escolar, por causa dessas notícias falsas. Ele garantiu que, com o apoio das entidades, a prefeitura, elaborará políticas públicas que atendam as demandas da pesca, pois é ela que, juntamente com a agricultura familiar, movimenta a economia local.

Por fim, a engenheira de pesca, Joseane, disse que “não existem estudos que garantam a relação da doença com a prática do pescado”. É papel da mídia informar a população sobre essa moléstia, mostrando que ela é rara e antiga. Somente as notícias fundamentadas poderão dirimir o pânico que se alastrou entre as pessoas. “É preciso criar uma rede de informações comprometida com a veracidade dos fatos”, afirmou ela. Padre Aluísio Borges, pároco da paróquia de Remanso, apoia os trabalhadores/as da pesca, e sugeriu, também, a cobrança junto ao Ministério Público para se tentar apurar as origens dessas notícias falsas.

Isoneide, da equipe do CPP da Diocese de Juazeiro-BA, lembrou que a região toda é impactada porque “a produção não é somente escoada aqui na região, porque vai pescado daqui de Remanso, por exemplo, para o Piauí, e outros estados do Brasil”; por isso, é importante que “as organizações que estão nos municípios, associações, colônias ou sindicatos façam essa discussão e cobrem das autoridades ações, porque a classe está sendo prejudicada”. Ela salientou que a pesca emprega, gera renda para famílias e movimenta o comércio local.  Sobre a participação dos poderes públicos no ato, Isoneide acredita que tenha sido positiva, e espera que o poder público municipal cobre das autoridades “superiores” ações que tragam melhorias para a classe pesqueira.

Texto e fotos: Aroeira Comunica.

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