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Realizado desde 2009, o Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores chega à sua sétima edição com um marco: pela primeira vez ele acontece dentro do Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), que acontece desde o dia 15 e segue até este sábado (18), em Juazeiro (BA). Um mar de trabalhadores do campo e das cidades lotaram a plateia da Tenda Caatingueira para saudar esta parceria. O encontro também abriu oficialmente o 3º Terreiro de Inovações Camponesas do CBA, reforçando o papel dos agricultores como produtores não só de alimentos, mas também de conhecimentos.
“Por muito tempo nós agricultoras e agricultores fomos invisibilizados em nosso papel de construir ciência. Nossa presença no CBA é uma forma de abrir o diálogo de saberes, da construção coletiva do conhecimento”, afirmou a agricultora Roselita Victor, que integra a coordenação executiva da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) pelo estado da Paraíba.
A presença desses importantes atores da agricultura familiar no Congresso não é novidade. Mas sua participação e protagonismo vêm crescendo a cada edição: este ano mais de 800 agricultoras e agricultores de todo o país desembarcaram em Juazeiro, na Bahia, para compartilhar no CBA as inovações e saberes desenvolvidos historicamente em seus territórios. “Construímos diálogo com quem está na academia e nas escolas. Um saber não se sobrepõe ao outro: eles se completam, se ajudam”, ensina Roselita.
E é justamente esta a proposta do Terreiro de Inovações Camponesas: abrir mais espaço no Congresso para que as tecnologias sociais nascidas nos assentamentos, nas roças e quintais, ganhem visibilidade. “Falar de inovação é falar da luta dos nossos mestres, pais, avós, bisavós. Não há inovação se não bebemos dessas fontes, se não voltamos às nossas raízes”, diz o agricultor Vagner do Nascimento, do Quilombo do Campinho, em Paraty, Rio de Janeiro. “Nos juntamos a pesquisadores e universidades, mas com a compreensão de que nosso povo tem uma história”.
Inovações que nascem nos territórios
É sobre sua própria história que a agricultora e estudante de agroecologia Miriam Castro, de Roraima, subiu ao palco do CBA para falar. Ela contou que durante a transição agroecológica em seu assentamento, não sabia o que fazer com os dejetos dos porcos que criava. Lhe recomendaram instalar um biodigestor no local. Sem recursos financeiros, ela pegou baldes e outros objetos que tinha em casa e acabou inventando seu próprio biodigestor.
“Boa parte da minha plantação hoje é adubada com o biofertilizante que eu mesmo produzo. Eu sei o que eu coloco no meu solo, como eu cuido do meu solo”, disse ela, feliz de compartilhar sua criação: “A gente se sente abraçado com o convite de vir ao CBA mostrar as experimentações que nascem nos nossos territórios”.
O presidente da Associação Brasileira de Agroecologia, José Nunes da Silva, celebrou a realização do 7º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores e do 3º Terreiro de Inovações Camponesas durante o CBA. E afirmou: “A agroecologia é o encontro das ciências”.
“Esse é o caminho para construirmos um mundo melhor e mais humano. Valorizar os sujeitos que fazem a agroecologia na prática é fazer agroecologia de forma integral”, acrescentou Roselita Victor.
Sobre o Congresso Brasileiro de Agroecologia
Nesta 13ª edição, em Juazeiro (BA), o CBA é realizado pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), com organização local da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), do Serviço de Assessoria a Organizações Populares (Sasop), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), da Universidade do Estado da Bahia (Uneb de Juazeiro), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Pequenos e Pequenas Agricultoras (MPA), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE) e Rede de Agroecologia Povos da Mata.
O Congresso conta patrocínio da Fundação Banco do Brasil e do BNDES e apoio do Governo Federal por meio dos Ministérios da Saúde, Igualdade Racial, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e FioTec, e Prefeitura Municipal de Juazeiro; e Governo do Estado da Bahia, por meio do Programa Bahia sem Fome e Bahia Turismo.
Conta também com a contribuição de representantes de diversas organizações, redes e articulações da sociedade civil, instituições de ensino, movimentos sociais populares e comunidades tradicionais.